1.760 - SOBRE O QUILOMBO DO CAMPO GRANDE

Segundo as notícias apresentadas por esse pesquisador, o Quilombo do Campo Grande, tão importante quanto o de Palmares, não era um quilombo comum, como sempre imaginaram os historiadores que até hoje trataram do assunto, e destaca alguns pontos interessantíssimos, nunca levantados por outro historiador.

Destaca por exemplo, que o Campo Grande era maior que Palmares, pois, enquanto aquele Estado-Quilombo nordestino só tinha 9 núcleos ou vilas, o Campo Grande chegou a ter cerca de 25 vilas ou núcleos, sendo que, em 1759/1760, ainda tinha mais de 18 povoações esparramadas pelo Alto São Francisco, Alto Paranaíba, Triângulo, Centro-Oeste, Sul e Sudoeste de Minas, inclusive um desses núcleos onde hoje esta localizado o município de Serrania.

O Historiador mineiro, Diogo de Vasconcelos, dá notícia de que, em 1752, a população do Campo Grande era orçada em mais de 20.000 (vinte mil) habitantes, muitos negros e, entre eles, pardos e brancos criminosos.

Não há dúvida da participação majoritária dos pretos forros nos quilombos do Campo Grande, principalmente em seu início.

No período de setembro a novembro de 1759, Bartolomeu Bueno do Prado, com uma tropa de cerca de 500 homens (entre brancos, índios e capitães-do-mato), armados até com granadas e montados em cavalos, atacou e destruiu muitos quilombos, e após reforçar sua tropa com mais três de seus capitães, e com um contingente de mais de mil homens, atravessou o rio Grande e tomou o já destruído Quilombo ou Povoado do Fala, hoje município de Guapé, Minas Gerais. Vejamos os demais “quilombos” atacados.

Quilombo ou Povoado das Pedras, que provavelmente se localizava entre os territórios dos atuais municípios de Alpinópolis/MG, Carmo do Rio Claro/MG e Nova Resende/MG.

Quilombo ou Povoado das Goiabeiras, que devia se localizar em territórios dos atuais municípios de Franca/SP ou Capetinga/MG.

Quilombo ou Povoado da Boa Vista II, localizava em território do atual município de Capetinga/MG, ao extremo norte de São Sebastião do Paraíso/MG.

Quilombo ou Povoado da Nova Angola, que se localizava entre os atuais territórios dos municípios de São Sebastião do Paraíso/MG e São Tomás de Aquino/MG.

Quilombo ou Povoado do Cala Boca, que localizava-se em território entre os atuais municípios de Guaranésia/MG e Guaxupé/MG.

Quilombo ou Povoado do Zondum, que localizava-se em território do atual município de Jacuí/MG,Quilombo ou Povoado do Pinhão, que localizava-se em território do atual município de Passos/MG.

Quilombo ou Povoado do Caetê, que localizava-se em território do atual município de Nova Resende/MG.

Quilombo ou Povoado do Xapeo (Chapéu), que localizava-se em território do município de Monte Belo/MG.

Quilombo ou Povoado do Careca, o maior de todos, que localizava-se em território do atual município de Divinolândia, no Estado de São Paulo.

Dali marcharam a sudoeste e foram destruir o último paiol dos quilombolas, a nordeste do atual município de Alfenas.

Prosseguiram no rumo sudoeste e foram destruir o Povoado ou Quilombo do Cascalho II, localizado ao norte do atual município de SERRANIA, MG.

Quantos pretos morreram? Quantos brancos pobres, aquilombados, morreram? Os documentos encontrados não são claros, ao contrário, são muito obscuros.

Segundo o historiador Pedro Taques, Bartolomeu, após a última batalha em dezembro de 1759, entregou cerca de 3.900 pares de orelhas ao Governador José Antônio Freire de Andrade.

A partir daí, revelam os documentos que os quilombolas que escaparam ficaram enlouquecidos, atacaram a capela de Bambuí, atacaram quartéis de guarda, atacaram fazendas, fizeram prisioneiras brancas, botaram freios na boca de homens brancos e os cavalgaram, mataram, descarnaram; etc.

Em todos os locais de quilombos, o pesquisador Tarcísio José Martins descobriu um fato comum: geralmente tem, no “lugar” uma capelinha ou uma cruz, sempre antigas. Esses marcos, segundo revelam os habitantes das regiões visitadas, foram colocados “ali” porque, “se alguém cavar mais de dois palmos, encontrará muitos ossos humanos”.

Texto extraído do livro “A HISTÓRIA DE MINAS ROUBADA DO POVO!”

Tarcísio José Martins

Observação: o povoado que deu origem a cidade de Alfenas, chamava-se “Cascalho”, o mesmo nome do Quilombo localizado no município de Serrania.